— E não foi só isso. A alcoolemia estava em oitenta (80mg%), acima do limite legal, e também foi encontrado metanfetamina, que é uma droga — Mae soltou um suspiro. Suas opiniões pessoais estavam lutando fortemente com sua ética profissional para que ela não pensasse negativamente sobre o falecido, mas quanto mais olhava para o comportamento da vítima antes do acidente, mais se esvaia sua simpatia.
A Dra. Ran não fez comentários. Ela suspeitava das fotos pré-autópsia do falecido. A camisa que ele usava estava carbonizada a ponto de grudar na pele, ao contrário dos jeans, que pelo fogo não ter se espalhado para todos os lados, não tinham sofrido tantos estragos quanto deveriam.
E também, a foto do interior do carro mostrava que o veículo havia sido totalmente destruído pelo fogo. O banco do passageiro tinha sido quase inteiramente reduzido a suas estruturas de aço, restando apenas alguns resquícios da espuma, que tinham sido expostos quando o estofado de couro foi queimado ao ponto de ser danificado.
— Será?
— O que?
— Você pode, por favor, verificar as roupas do falecido? A parte de couro do banco do carro também.
— Ah… tudo bem. — Embora Mae não entendesse verdadeiramente por que a amiga havia pedido para ela dar uma segunda olhada, como se duvidasse do resultado da autópsia, ela sabia que Ran geralmente não dava confiança aos seus instintos. Para Ran, causa e efeito sempre deviam ser explicados apenas com base em fatos. Mae pensou que o que quer que fosse que Ran estivesse suspeitando, devia ter algum fundamento.
— Mas posso te fazer uma pergunta? Por que você quer que eu dê uma olhada? A polícia pediu?
Ran pensou na expressão arrogante da Tenente enquanto tentava contestar a causa da morte da vítima, não assumindo, como os outros policiais, que havia sido apenas um acidente. — … não, mas o Tenente Jiu sim.
— Você pode… parar de me provocar?
Toc-toc.
A porta da sala de Toxicologia Forense se abriu, provando imediatamente a teoria irrefutável de que, ao falar de alguém, essa pessoa apareceria. O Tenente Jiu se esforçou para conter seu sorriso ao ver a oficial Mae. Mesmo que a Dra. Ran não estivesse na sala, ela ainda conseguiria adivinhar que ele havia se voluntariado para ir ao Departamento de Toxicologia Forense só para ver uma certa pessoa.
— Dra. Ran, o parente do Sr. Wasan veio buscar o corpo da vítima para a cerimônia.
— O Dr. Bank cuidará disso. Eu vou levar o relatório da autópsia para a polícia e o promotor pessoalmente — explicou a Dra. Ran. Como a parte forense havia chegado ao fim, só restava ao departamento jurídico dar continuidade à investigação do caso.
— Ah, na verdade você precisa ir encontrar o parente. O Inspetor está aqui — Jiu olhou para a esquerda e para a direita para verificar se ninguém estava escutando, então cobriu a boca e disse o que pensava. — … dê um pouco de rosto a ele.
Ran olhou para ele através de seus óculos redondos. Normalmente, em casos comuns, seu assistente, Dr. Bank, era quem costumava entregar o corpo aos familiares. Mas ela não ficou surpresa que, ao aparecer uma figura tão importante, houvesse algumas complicações. Então a jovem médica decidiu seguir o Tenente Jiu para encontrar o parente do falecido que a esperava.
Um par de belos olhos os encarou assim que chegaram, e bastou esse único olhar para que ela soubesse quais assuntos deveria tratar com antecedência. No assento de espera se encontravam o Inspetor, que ela já tinha visto antes, um policial, seu assistente, Dr. Bank, que estava um pouco afastado, e o senhor Siraphop Siriwat, que sentava em um sofá sozinho e era escoltado por homens altos de terno, que o guardavam como se alguém estivesse prestes a atacar seu mestre.
— A Dra. Ran chegou — o Tenente Jiu disse brevemente, dando passagem para a médica dar um passo à frente e abaixar a cabeça dando as boas-vindas ao convidado, como em uma pequena cerimônia.
— Achei que o legista seria novamente o Dr. Rakkhit — disse o Inspetor, se referindo a um médico legista mais conhecido no meio investigativo. Como o falecido era herdeiro de um grande empresário, ele imaginou que o Instituto Médico Legal arranjaria para ele um perito respeitado da área para fazer sua autópsia, mas inesperadamente acabou sendo uma médica com a qual ele raramente trabalhava.
— Ontem à noite não tinha ninguém no instituto, por isso assumi o caso — explicou Ran com a voz calma. Ela estava acostumada a ter suas habilidades ignoradas só por ser mulher. O Inspetor ia falar alguma coisa quando o magnata Siraphop acenou com a mão descuidadamente.
— Vim levar o corpo do meu filho de volta para a cerimônia. A autópsia foi concluída, certo?
— Sim, mas…
— Tenho que assinar para a retirada do cadáver também? De qualquer forma, vamos pegar os documentos agora mesmo.
A jovem médica percebeu a expressão nos olhos daquele pai que havia acabado de perder o filho, mas que não parecia tão triste quanto deveria. Ele agiu como se só precisasse assinar por um de seus bens e sair. O corpo carbonizado e sem alma que havia passado a noite toda em sua mesa de autópsia valia menos que seus negócios para o homem à sua frente?
— Você não tem certeza sobre a causa da morte?
Um longo suspiro foi ouvido, fazendo todos os presentes sentirem o coração pesar. — … não.
— Eu ainda não te disse a causa da morte do seu filho. Ao menos… — a Dra. Ran semicerrou os olhos para o Inspetor que ela não tinha visto na cena do crime na noite passada, mas que agora se sentava na frente do parente da vítima como se fosse o responsável pelo caso. — A polícia deve revisar o relatório da autópsia caso alguma coisa afete a investigação.
O Tenente Jiu e o Dr. Bank, que estavam um ao lado do outro, engoliram em seco. O caráter inflexível e destemido dessa pequena médica era bem conhecido. Quanto mais viam seu rosto lindo franzir, mas pensavam em seus corações: “Ai, essa doeu”.
— Eu sei a causa desde que me ligaram ontem para avisar. Meu filho foi para uma festa e bebeu quase a noite toda. O carro explodiu por causa da própria ignorância dele, certo? É por isso que ele está nesse estado e é por isso que eu estou aqui para buscá-lo. Certo, Dra.?
Um silêncio se instaurou no local após a última sentença longa do pai da vítima. Não havia sequer um indício de tristeza em seus olhos; em vez disso, eles estavam cheios de uma expressão aborrecida, como se ele não quisesse perder um único segundo com aquela estadia sem sentido.
— É verdade que a causa forense da morte foi inalação de uma grande quantidade de toxinas de fumaça, e seu filho ainda tinha um alto teor de álcool no sangue, bem acima do limite legal, mas ele ainda era capaz de percorrer uma distância de mais de dez quilômetros — a médica disse com eloquência, enquanto olhava para o velho com indiferença. Ele também olhou para ela. — Não podemos descartar testemunhas e outras evidências. É dever da polícia continuar a investigação além dos resultados da autópsia.
O policial sênior não se atreveu a intervir, mas limpou a garganta. Ele não tinha pensado que teria que lidar com uma situação tão extrema.
— Mas eu quero acabar com isso o mais rápido possível. — Além de rivais nos negócios e questões familiares que o aborreciam, ele ainda tinha que lidar com essa médica legista que se agarrava à sua profissão de tal forma que fosse contra os seus desejos. O senhor Siraphop se levantou e caminhou firmemente em direção à garota, que nem recuou nem se desculpou por suas palavras ofensivas.
— O incêndio no carro foi causado por negligência do meu filho. Não me faça perder mais tempo.
Ran apenas olhou para a indiferença daquele pai, que se virou para dar ordens ao Inspetor. Alguém disposto a seguir ordens.
— Diga ao seu subordinado encarregado do caso que não me importo com a causa da morte e que lidarei com todos os danos públicos.
— Sim senhor, vou dizer.
O relatório na mão da médica foi apertado com força. Talvez, pela primeira vez na vida, ela estivesse quase fora de controle. Mas seu olhar permaneceu inflexível quando o velho se virou para ela.
— Posso levar o corpo?
— Fique à vontade, meu dever acabou.
Fim da liberação. O Dr. Bank se ofereceu para levar duas das escoltas do pai do falecido para o necrotério. Do outro lado, a médica tentava suprimir seus sentimentos pessoais em seu coração. Ela abaixou a cabeça ligeiramente como forma de cortesia pra o homem mais velho antes de se afastar e sair de lá sem olhar para trás.
— Não, eu que estou encarregada do caso, por que vocês não me esperaram? Vai lá, rápido, e diz para ele que ele ainda não pode levar o corpo, entendeu? Em vinte… não, estarei ao em dez minutos, tchau.
A Tenente Tul desligou o celular e o jogou no banco do passageiro com frustração e raiva. Antes, estava dirigindo a noventa por hora, mas agora pisava fundo no acelerador, alcançando uma velocidade de cento e vinte por hora devido à ligação de seu júnior.
Ele havia ligado para informar que a família do falecido, que havia morrido carbonizado na noite passada, havia ido buscar o corpo para realizar a cerimônia religiosa fúnebre. No entanto, ainda havia muitas lacunas que levantavam suspeitas para Tul. Com as novas pistas e evidências que ela havia acabado de encontrar próximo à cena do crime, o curso da investigação poderia mudar.
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