Degustação – Ai No Chikara – A Força do Amor
Prólogo
Período Edo
Durante o período Edo no Japão, na província de Musashi, havia um templo pertencente ao clã Suguiyama, o qual veneravam a deusa da criação e da morte Izanami. O clã Suguiyama era responsável pela manutenção e preservação do lugar sagrado, assim como as realizações de rituais e oferendas, para que Izanami protegesse e tornasse a região de Musashi muito próspera.
Em uma ensolarada manhã, durante o Kamidama, o clã encontrou o seu último suspiro. Um bando de saqueadores que vinham furtando vários templos, invadiu o templo de Izanami. O membro mais velho do clã ordenou que as mulheres e crianças se escondessem, enquanto os homens lutavam contra os invasores. Com temor, os mais vulneráveis se abrigaram em um alçapão atrás da estátua da deusa pedindo a sua proteção. No entanto, como o número de saqueadores era maior, e o clã Suguiyama sucumbiu à derrota, e nem as crianças e as mulheres foram poupados.
Ao anoitecer daquele mesmo dia, retornando da província de Sagami, a jovem sacerdotisa Suguiyama Sumiko, que tinha apenas 20 anos, deparou-se com sua casa destruída em meio a um mar de caos. Assustada, correndo em total aflição e a procura de ajuda, ela entrou no templo e encontrou todos de sua família sem vida, cobertos de sangue no salão principal bem em frente à estátua de Izanami.
Tomada por um misto de sentimentos, que incluíam dor, raiva e rancor, Suguiyama Sumiko pediu à deusa que lhe desse todo o poder dela para destruir aqueles que trouxeram a morte da sua família, da pior maneira possível. Nesse exato momento, Izanami percebendo todo o ódio emergindo da sacerdotisa, o que se assemelhava a ela, concedeu o seu pedido, transferindo-lhe uma gama enorme de poder, transformando-a em uma sacerdotisa das trevas.
Uma voz se fez estridente dentro do salão: “– Ouça, minha cara, concederei seu pedido! Agora você possui uma parte de meus poderes, assim como o controle total de meu exército de mortos, os “Yomi”. Mas, escute bem, esse presente é um dom e uma maldição, pois a sensação de controle irá te fazer cometer atrocidades e o único meio de pôr um fim a isso, será com uma estrela.”
Após escutar a advertência da deusa, Suguiyama Sumiko sentiu seu corpo ferver, sua respiração ficou ofegante e começou a transpirar, à medida que rastejava no chão, por não conseguir andar, ela foi percebendo como o poder da deusa era inexplicavelmente contagiante o que a fazia desejar por mais.
Constatando que seu corpo já estava devidamente acostumado com o poder, após passar vários minutos se contorcendo no chão por sentir uma dor terrível, Suguiyama invocou com um simples estalar de dedos o exército de Yomi, ordenando que eles encontrassem os malfeitores e que lhe trouxessem as cabeças empaladas em suas lanças.
E assim foi feito, e após terminar de enterrar o último corpo de um membro de sua família, Suguiyama recebeu as cabeças empaladas dos assassinos, e com lágrimas nos olhos, ela se pôs a sorrir, não um sorriso de alívio, mas, sim, um sorriso sádico e maléfico que firmava o nascimento de um mal maior.
Alguns anos haviam se passado após o trágico dia em que o clã Suguiyama foi quase aniquilado. Rumores se espalharam por todas as províncias da ilha sobre a sacerdotisa que havia sucumbido ao mal e que agora trazia mazelas irreversíveis para todos que ali viviam, deixando assim praticamente todas as províncias com medo de suas ações.
Porém, na província de Sagami ainda havia pessoas que duvidavam do poder e crueldade de Suguiyama, existiam ainda aqueles que ousavam dizer que se caso encontrassem a sacerdotisa, a derrotariam e transformariam a mesma em sua escrava. O entardecer aflorava-se sobre Sagami, o sol incendiava o céu com seu laranja vivido e as poucas estrelas finalmente começavam a aparecer, a população encerrava o expediente de seus trabalhos e começava a se preparar para a noite, mulheres e crianças retornavam para suas casas e os homens começavam a se reunir para comentar sobre as mudanças que estavam cada vez mais frequentes na província.
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