Foi neste exato momento, que começaram a soar os sinos, avisando que um mal acabava de chegar a Sagami, no alto da colina onde dava-se para ter uma vista completa da cidade dos ceramistas, surgiu de forma impetuosa Suguiyama, montada em seu corcel branco, com seus cabelos longos e negros ao vento, trajando um belíssimo quimono preto com pequenas folhas vermelhas delicadamente bordadas. Sem ao menos pensar duas vezes e emanando um ódio aterrorizador, a sacerdotisa ordenou que o exército de Yomi atacasse a cidade e matasse todos os que ousassem resistir.
Gritos e mais gritos foram ouvidos pela cidade, cobertos apenas por uma fumaça negra que pairava pelo ar. O chefe da cidade, tentando impedir o avanço do exército de mortos, ordenou que seus arqueiros se posicionassem nas frestas dos muros e se armassem com seus melhores arcos e flechas. Com a confirmação vinda do magistrado, miraram e lançaram tudo o que tinham contra o inimigo, infelizmente as investidas não surtiam efeito contra os soldados que saqueavam as casas, matavam a população e incendiavam a cidade. Nessa hora todos imaginaram que não havia nenhum ser vivo que conseguiria escapar da fúria de Suguiyama.
A destruição da cidade dos ceramistas em Sagami foi um marco que alastrou a lenda de intolerância da sacerdotisa. Contudo, as províncias resolveram se reunir para colocar um fim na infame Suguiyama e no exército de Yomi. Já havia passado da hora de lutar contra quem trazia tantas calamidades as terras do Japão. Dessa forma, dias se passaram e um líder de cada província compareceu a grande conferência juntamente com sacerdotes dos principais templos, e após muita discussão, foi por fim decidido que todos lutariam juntos. Afinal, Suguiyama ainda era humana e com toda certeza poderia ser derrotada.
Os clãs mais nobres da província de Musashi, a família Okada que liderava um vasto exército de espadachins e a família Ishii que liderava a maior legião de arqueiros da província, se juntaram para comandar os guerreiros que iriam enfrentar a sacerdotisa do mal.
No entardecer daquele mesmo dia, na fronteira entre Musashi e Sagami, uma batalha sanguinária se iniciou. Nesse momento, o grande exército das províncias confrontou o exército de Yomi, flechas e lanças foram disparadas e a cada um homem ferido, dois mortos renasciam das sombras, era impossível pensar que os mais honrosos guerreiros das províncias iriam ganhar do exército da deusa da morte, porém, algo aconteceu, uma fresta de luz foi vista em meio à escuridão, em um relance de segundos, um dos espadachins decapitou um dos soldados de Yomi, encontrando assim o ponto fraco dos guerreiros de Izanami.
Com isso, o exército de mortos começava a cair, a cada cabeça degolada, um soldado tornava-se pó, evidenciando os rumos da batalha. Constatando sua iminente derrota, Suguiyama gerou uma tempestade de fumaça para fugir do campo de guerra, porém Okada Taisho e Ishii Yuuto a viram, e seguiram com o intuito de derrotá-la. Sem saída, presa por uma parede de pedras, Suguiyama lutou contra Taisho e Yuuto.
A batalha que parecia favorável para Okada e Ishii por estarem enfrentando somente Suguiyama, mostrou-se bem mais árdua do que parecia. A sacerdotisa, com um sorriso sarcástico no rosto, começou a proferir encantamentos e cânticos que abalaram a região onde estavam. A terra começou a rachar e a neblina que cobria a alta parede de pedras começou a descer ficando cada vez mais densa. Yuuto ficou atrás de Taisho vigiando enquanto o espadachim atento observava à frente. Nesse exato momento, com um grito ensurdecedor, Sumiko atacou ambos, jogando Taisho contra a enorme parede de pedras, o que deixou-o levemente tonto.
Ao recobrar os sentidos, Okada avistou Suguiyama segurando e erguendo Yuuto pelo pescoço com uma única mão, enquanto retirava o olho esquerdo do mesmo com as unhas da outra mão que estavam grandes e afiadas. Tomado por uma ira ao ver seu amigo cego de um dos olhos, Taisho em um ato brusco cortou a mão da sacerdotisa que agonizando de dor soltou seu refém. Sem pensar duas vezes, Yuuto amarrou Suguiyama com os cipós da Glicínia que estavam mais perto, imobilizando-a:
– Renda-se, Suguiyama, ou lhe arrancarei a cabeça! – Esbravejou Taisho.
– Ora, ora! Meu querido, Okada, corte-a! – Com uma risada estridente falou. – Pois a morte é só o princípio.
– Iremos lhe cortar e queimar, sua bruxa! E ainda assim não tem medo? – Indaga Yuuto.
– Vejo que os clãs Okada e Ishii são bons amigos, quase irmãos. – Suguiyama debocha – O que aconteceria com essa irmandade se por um infortúnio elas fossem obrigadas a se separarem?
Com um olhar maquiavélico, e um sorriso ameaçador, Suguiyama proferiu suas últimas palavras e com um suspiro ímpio amaldiçoou os clãs Okada e Ishii: – “O temor que a força da amizade destruiu, a força do amor pode reaver. Caso algum dia, um de seus descendentes um casal venha ser, eu das cinzas dos meus opressores voltarei ao meu poder.”
Sem pensar duas vezes, Okada Taisho pôs fim ao temido exército de Yomi e na impetuosa sacerdotisa, ao decapitá-la. Assim, pensando no melhor para toda a população da província de Musashi, Okada e Ishii resolveram queimar o corpo de Suguiyama. E após o feito, entregaram as cinzas para um monge no templo de Izanami, onde pensavam que os restos mortais da mesma estariam seguros e poderiam ser purificados.
Com medo da maldição, as famílias amigas decidiram se separar com o intuito de que nenhum integrante de uma família se apaixonasse e fosse correspondido pelo da outra, indo para províncias diferentes e distantes. A paz novamente reinava pelo Japão e todos viviam em harmonia, enquanto o mal que paira sobre o templo de Izanami, espera, com cautela, somente um dia ser despertado.
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