Depois de deixar dez passageiros pela manhã, percebi que fui trabalhar puramente por hábito. Na noite anterior eu estava inseguro sobre minha vida, discutindo entre voltar para Chumphon ou continuar em Bangkok. Acabou que meu hábito tomou a decisão por mim pela manhã… oh, espera, no fim da manhã, para ser mais exato.
— Ei, rapaz, quero ir para o edifício XX.
Um novo passageiro se aproximou.
— Vinte bahts, senhor.
Dei o preço e ele assentiu.
Olhei para o meu próprio reflexo no espelho do retrovisor da moto enquanto ligava o motor.
Não é como se eu estivesse sorrindo para mim mesmo, eu acho. Mas pude sentir um leve puxão para cima no canto da minha boca.
Olá, novo eu.
E novas resoluções, na mesma velha cidade.
Então dei a partida para levar o meu passageiro ao seu destino.
Já faz mais de um ano desde aquela manhã em específico. Passei por um período doloroso não sentindo nada pior que o desgaste, mas sobrevivi. Ouvi que a Fern ficou grávida, mas não se casou. Não sei o que ela fez com o bebê, se abortou ou se o manteve. Não sou de voltar no que já deixei para trás. Não que eu não sinta falta dela ou que eu seja sem coração, mas, para mim, se eu continuasse cercando a vida dela seria ruim para todo mundo: eu, ela e a pessoa que ela escolheu.
Nós cuidamos das nossas próprias vidas. Bem assim.
Eu tenho um trabalho que me dá o necessário para viver.
Eu tenho uma boa família. E estou satisfeito comigo mesmo.
E sobre um novo amor, ainda não pensei sobre isso.
— Hum… quero ir para o Condomínio Baan Klang Soi, por favor.
Enquanto meus pensamentos estavam vagando pelas minhas memórias, a voz baixa de um cliente me trouxe de volta à realidade que eu estava enfrentando.
— Ah… trinta bahts, senhor — respondo automaticamente e ele assente.
— Ei, pode me passar o capacete, por favor?
Ele aponta para o capacete extra que eu reservo para os passageiros. O encaro em silêncio.
— Posso usar esse capacete… ou não posso?
Ele franze a sobrancelha de forma interrogativa. Sorrio e assinto com a cabeça enquanto passo o capacete para ele.
— Oh, claro. Você pode usar esse. Ele é para os meus passageiros, só fiquei surpreso.
Ele pega o capacete, afivela e ajusta o aperto da alça. Oh, uau… muitos passageiros concordam em usar o capacete, mas nunca vi alguém colocá-lo de forma tão cuidadosa e metódica quanto esse homem.
— Por que você ficou surpreso? — ele perguntou.
— Porque geralmente os passageiros não pedem pelo capacete. Na maioria das vezes tenho que implorar para eles usarem.
— Oh? Por quê? É para a minha própria segurança, então preciso usar. E estou com medo, especialmente porque nunca andei de moto antes.
Eu estava quase colocando o pé no pedal para ligar o motor quando ouvi o “nunca andei de moto”, o que me fez parar o pé no ar. Me viro para dar uma olhada melhor nesse passageiro.
— Senhor, você disse que nunca andou de moto?
Ele assente como resposta. Oh, Merda! Eu vou ser o primeiro a levar ele na garupa?
— Então eu sou o primeiro mototáxi que você pega?
Ele assente novamente.
— Deixa eu reformular a pergunta, essa é sua primeira vez como passageiro em uma moto?
Ele balança a cabeça positivamente de novo, fazendo o capacete oscilar. Escondo a risada.
— Certo, então que tal isso? — Empurro o suporte lateral da moto e a estaciono. — Vou te explicar algumas coisas primeiro, assim você não fica tão assustado. Pode ser?
Ele balança a cabeça, fazendo o capacete balançar mais uma vez. Dessa vez foi muito mais engraçado que antes, quase tive que me beliscar para suprimir minha risada.
— Aqui, esses são os pedais para apoiar os pés. Quando estivermos andando, apoie um pé em cada. Entendeu? — Aponto para os pedais do passageiro. Ele olha para eles e concorda.
— E aqui — aponto para a barra de apoio traseira —, é a alça para o passageiro se segurar.
Ele assente. — E a minha outra mão?
— Uh… o quê? — Eu estou confuso. Que outra mão? O quê?
— Bem, uma mão vai na alça, e a outra mão? Onde a coloco? Onde me seguro? — Ele pergunta sério. Aaah, que saco! Ele está de brincadeira comigo? O que fiz para merecer esse passageiro?
— A outra mão… talvez você possa apoiar na sua coxa.
Dou a ele uma resposta qualquer. E eu lá vou saber onde ele deve colocar a mão? É a sua mão, você que decide, mano.
— Mas isso está desafiando as leis da física. Como vou manter meu equilíbrio assim?
Ele argumenta de cara fechada, franzindo as sobrancelhas. Que diabos isso tem a ver com física…? Não entendo, então olho para ele devolvendo uma cara feia como resposta.
— Olha, se eu sentar aqui e você usar os freios, vou ser jogado para frente. Posso usar a alça para me segurar nesse caso, certo? Mas quando você sair ou acelerar vou ser jogado para trás. A mão atrás de mim não vai me ajudar. Minha outra mão precisa segurar em algo na frente para eu não cair para trás.
O passageiro elabora com detalhes. Não consegui acompanhar muito depois de “eu vou ser jogado para frente”, então nem vamos comentar o ser lançado para trás. Estou completamente perdido. Que se dane a física! Meu programa vocacional não incluía essa matéria.
— Então você está querendo dizer que precisa de algo para se segurar na frente?
Tento resumir o ponto principal. Felizmente ouvi a última parte da sua explicação.
Ele assente.
— Posso segurar na sua cintura?
— Na minha cintura? Definitivamente não, tenho cócegas. Se você segurar na minha cintura, não vai cair, mas a moto e todo mundo sim assim que a gente começar o percurso. Sou muito sensível! — Inferno, não! Não posso deixar ele segurar minha cintura. Nunca permiti nem que as passageiras bonitas ou mesmo minha ex fizessem isso. Sou muito coceguento.
Ele faz uma careta e suas sobrancelhas já franzidas se franzem ainda mais. Oh, uau, incrível. Eu nem sabia que uma pessoa podia franzir tanto as sobrancelhas.
— Hum… vamos ver. Que tal você se segurar no meu ombro?
Tento negociar, mas suas sobrancelhas continuam franzidas.
— Acho que não é seguro o suficiente — ele fala.
Começo a contar de um a dez. Calma, Mork, ele é seu passageiro.
— Ah, tente assim, então. Suba na moto.
Volto para a minha moto e monto nela, puxando o apoio lateral de volta para o seu lugar. Ele se ajeita devagar no assento atrás de mim. Pego sua mão direita com a minha, guiando seu braço para frente, um pouco abaixo da minha axila, e travo sua mão no meu ombro.
— Essa pose é boa o bastante? Ela é firme e segura, eu prometo.
Inclino minha cabeça para frente enquanto tento suprimir qualquer insinuação de sarcasmo que talvez possa escapar no meu tom de voz… o que foi bastante difícil.
— Mas agora, de acordo com as leis da física, se eu cair para trás você vai cair junto comigo.
Ele continua querendo discutir. Que se dane a desgraça dessa física! Se ele continuar fazendo perguntas vou começar a chamá-lo de George, o Curioso. Que cara exigente! É só andar de moto! Seu questionamento interminável está me fazendo sentir como se estivéssemos recitando toda a ordenação. Argh!
— Vamos lá, confie em mim. Eu sou forte o suficiente para não te deixar cair. Uma vez que você estiver na minha moto, sua segurança será minha responsabilidade. Só confia. —Ligo o motor e me preparo para levar o passageiro ao seu destino. Preciso me apressar e me livrar logo desse louco por física.
Parando para pensar, nunca o vi antes.
Então, com sorte, vou ter que lidar com ele só dessa vez.
Oh… preciso checar, assim posso evitar ele caso nos encontremos de novo.
— Mas então, você se mudou há pouco tempo para o Condomínio Baan Klang Soi? — pergunto a ele antes de dar a partida.
— Por que você quer saber?
Tá brincando? Aaaargh! Por que ele está me respondendo com outra pergunta?
— Porque tenho trabalhado aqui por muitos anos e já levei muitos passageiros nesse condomínio, mas nunca te vi antes, então você deve ter se mudado recentemente.
— Oh! — ele riu. — Mão me mudei, só estou indo me encontrar com alguém.
— Ah… sim. Certo, segure firme. Nós vamos sair.
Ele está indo ver a namorada, agora entendi. Há! Do jeito que ele é esse relacionamento não vai durar muito tempo. Ele é muito mimado. Nenhuma garota vai conseguir tolerar um cara tão exigente. E olha que estou falando por experiência própria.
— Vai devagar, por favor, não quero cair.
— Sim, senhoorrrrrr.
Estaciono em frente ao condomínio e sua mão continua travada no meu ombro. Ele espera eu desligar o motor para me soltar e descer lentamente, então tira o capacete e me devolve.
— Trinta bahts, por favor. — Pego o capacete de sua mão.
— Obrigado. — Ele me dá uma nota de vinte e uma moeda de dez bahts.
— Obrigado, senhor. — Ligo o motor novamente e me preparo para sair, mas acabo ouvindo uma conversa atrás de mim.
— Tawan, você demorou tanto que pensei que você tinha se perdido.
— Awn, querido, isso é impossível.
Eu não queria ser enxerido, mas minha cabeça virou automaticamente. A pessoa que estava esperando por aquele passageiro na frente do condomínio… era um cara.
Tipo, uau! Sua namorada na verdade é um namorado.
Capítulo 02 da Degustação – My Ride – Te Amo Motorista, livro do autor tailandês Patrick Rangsimant. Traduzido e publicado no Brasil pela editora blb.
Leia o Capítulo Um da Degustação – My Ride – Te Amo Motorista Aqui
-
Sete Dias Para o Dia dos Namorados – Patrick RangsimantR$ 29,99
-
Ebook -My Ride – Te amo, motorista – Patrick RangsimantR$ 26,99
-
Produto em promoçãoMy Ride – Te amo, motorista – Patrick RangsimantOriginal price was: R$ 64,99.R$ 61,99Current price is: R$ 61,99.
Sem comentários! Seja o primeiro.