Abri a porta e caminhei para dentro da casa me perguntando porque essa pessoa queria saber quem eu era. — Então você está com um número errado, este não é o número da Nath. — E desliguei a chamada imediatamente. Se o dono do número ligasse novamente, eu não iria atender. Essa garota, Nath, provavelmente te deu um número falso. Não foi dessa vez…
A noite de descanso depois de sair com meu o amigo passou tranquilamente. Dormi bem durante a noite toda sem que nenhum número estranho me ligasse de novo.
Virei-me para a jovem residente que estava em pé com o rosto pálido e lancei-lhe um olhar com uma mistura de simpatia e divertimento. Em uma mesa de aço em nossa frente estava o cadáver de um jovem. Ele nos foi encaminhado para fazermos a autópsia e determinarmos a causa da sua morte. Pelos registros, essa pessoa morreu em um acidente de carro após o veículo ter colidido com um poste por volta das quatro da manhã. Quando os paramédicos chegaram na cena, o homem já não tinha pulso. Passei meia hora com a residente, revisando como determinar a hora da morte e como examinar a condição externa do corpo. Depois, mandei os oficiais começarem o processo de dissecação. — Você já tomou café, Fai? — perguntei para a pequena residente, que teve a presença requerida na Emergência comigo por alguém da equipe. Pobrezinha.
— Eu… já tomei sim, professor. — É bem comum os residentes chamarem alguém da equipe de autópsia de “professor”. O rosto da garota ficou cada vez mais pálido quando o couro cabeludo sobre o rosto do falecido foi aberto, revelando seu crânio. Olhei para Fai que usava seu avental, uma touca cirúrgica verde, uma máscara sobre seu nariz e botas de borracha. Seu corpo parecia encolher nesse uniforme. Sorri gentilmente com essa visão.
— Vamos lá, vamos nos apressar e terminar a autópsia. Vou levar você para almoçar. — Eu a guiei para longe da mesa, esperando que a equipe abrisse o crânio. — Qual você acha que foi a causa da morte? — perguntei a Fai sem muitas expectativas. Quando eu era estudante tive apenas duas semanas de aula forense. Se eu não tivesse ido atrás de uma especialização nessa área, com certeza não conseguiria lembrar de nada também.
— Hum… — Fai se virou com uma expressão incerta — Choque hipovolêmico pela excessiva perda de sangue?
— Ah, é possível. Perda de sangue é comum em pacientes que sofreram acidente. Contudo, pela aparência externa, não vimos nenhum sangramento externo a não ser no nariz e nas orelhas. Deve ter algum sangramento interno. Essa pessoa tem um hematoma enorme na barriga e no peito. Uma vez que abrirmos o pulmão e o abdômen, seremos capazes de ver. Não acho que ele tenha morrido de perda de sangue… — Fai se virou para mim com um olhar cético. Mexi minhas sobrancelhas para ela. — Espere e verá…
O crânio foi aberto lindamente e o cérebro transportado para outro recipiente. Guiei Fai para olharmos a cabeça que estava exposta.
— Bingo! Há fratura na base do crânio. Consegue ver? — Apontei para um sinal de rachaduras que percorriam a base do crânio para que ela visse. — A princípio, vimos escarro rosa e espumoso pingando de seu nariz, bem como outras evidências revelando o mecanismo de morte por asfixia. A base do crânio estava fraturada, então o sangue entrou em suas vias respiratórias. Essa pessoa deve ter morrido por se engasgar com o próprio sangue.
Vi os olhos redondos de Fai se iluminarem de animação. Ela me pareceu um tanto quanto fofa.
Depois de completar a autópsia, levei Fai à casa de carnes que ficava não muito longe do hospital. Era costume que sempre que um residente fosse mandado para mim eu o levasse para almoçar e depois o trouxesse de volta à Sala de Emergência, também chamada de SE, para que continuasse com seus afazeres.
— Por que você escolheu estudar medicina forense, professor? — perguntou Fai enquanto esperávamos pela comida. Essa era uma pergunta popular que todo residente me fazia quando os trazia para almoçar.
— Eu acho legal. Nós nos comunicamos com pessoas através das palavras, mas os mortos se comunicam conosco através de seus corpos. Tudo depende se vamos ou não ouvi-los. O morto que caiu de um prédio pode ter sua causa de morte determinada como suicídio, mas então é encontrado um nível alto de substâncias tóxicas em seu sangue. O morto está tentando falar com a gente, dizendo: Eu não me matei, doutor! Eu fui assassinado!
Fai franziu o rosto. — Professor, você me dá arrepios.
Eu ri. — Ei, foi apenas uma analogia. Se os mortos realmente falassem, eu sairia correndo.
— Você ainda tem medo de fantasmas, professor?! — disse Fai em um tom estridente.
— É claro que sim! Eu rezo todas as noites antes de dormir. — Fai e eu rimos ao mesmo tempo. Parecia uma boa oportunidade. — Ah… Na verdade, você não precisa me chamar de professor. Essa não é uma escola médica. Vamos simplificar. Você pode me chamar de Bunn.
Fai sorriu largamente. — Certo. Você é muito gentil e ensina muito bem, Bunn.
Eu ia agradecê-la pelo elogio quando, de repente, o barulho do meu celular nos interrompeu. Peguei o aparelho e olhei o número. Era o nome que eu havia salvo como “Capitão Aem”.
Duas palavras irromperam na minha mente quando vi esse nome durante o horário de trabalho: Algo aconteceu…
Saí da van do hospital e Fai saltou logo atrás de mim. Decidi trazer a residente junto comigo para lhe oferecer a experiência de estar em uma cena de crime, pois fora do meu horário de trabalho quem faria a autópsia na cena do crime eventualmente seria o residente que estivesse de plantão na Emergência. Eu estava usando uma jaqueta preta com “FORENSE” escrito atrás em letras grandes e tênis, para dar agilidade. Nós três (Fai, eu e Anun, o outro legista) entramos no prédio. Anun estava carregando uma bolsa em uma mão e com a outra segurava uma câmera compacta para obedientemente tirar fotos do local. O prédio ficava em um condomínio no meio da cidade. Havia um pequeno grupo de pessoas se juntando no térreo, provavelmente formado por moradores do local.
-
Produto em promoçãoTransplante- By SammonOriginal price was: R$ 69,99.R$ 62,99Current price is: R$ 62,99.
-
Produto em promoçãoEbook -Manner Of Death – By SammonOriginal price was: R$ 29,99.R$ 24,99Current price is: R$ 24,99.
-
Produto em promoçãoManner Of Death – By SammonOriginal price was: R$ 69,99.R$ 61,99Current price is: R$ 61,99.
Sem comentários! Seja o primeiro.