Tay olhou para o rosto forte de Will e o olhar carinhoso de Tiago, seu outro pai. Ele amava os pais, mas havia sido arrancado de suas férias prolongadas para iniciar seus estudos e se tornar um serfeiro, guerreiro treinado para proteger o mundo humano e o mundo Arcanos dos terríveis sluagers, feras devoradoras de magia e carne fresca. O problema é que todos queriam que Tay fosse um guerreiro tão bom quanto seus pais foram um dia. Por ser filho de quem era, todos esperavam alguma coisa dele. “Está no seu destino seguir os nossos passos”, Will revirara os olhos ao ter de lidar com a explosão do filho semanas atrás.
Agora, parado no hall de entrada, Tay sentia o peso de ser filho de Will e Tiago. Mesmo sendo filho adotivo, ele ainda teria de carregar o título dos pais em breve.
— Vocês não precisam subir — ele garantiu. — Acho melhor me virar sozinho.
Will o abraçou e Tiago quase o partiu ao meio com um abraço demorado enquanto chorava.
— Muito cuidado, não se envolva em confusão — ele pediu sussurrando. — Qualquer coisa você pode nos ligar.
Tay já sabia disso tudo, já que Tiago vinha atormentando-o com uma lista infinita sobre segurança para pessoas que moram sozinhas, apesar de ele mesmo nunca ter feito isso.
Phan abriu a janela da cozinha para deixar a brisa refrescante da noite entrar. Ele estava organizando a louça que havia ganhado de presente. Cada parte do apartamento havia sido preparada com cuidado e, o melhor, da forma que ele queria.
O garoto estava arrumando seus livros na grande estante na sala quando ouviu o barulho de passos e chaves girando. Por alguns segundos ele ficou pensando se seus vizinhos eram barulhentos, mas logo sua cabeça encheu-se de horror. A porta do seu apartamento foi aberta e alguém entrou.
O estranho era mais alto que Phan, tinha cabelos negros e lisos, olhos de um cinza intenso, quase prateados, braços tatuados e usava roupas pretas. Ele jogou uma bolsa de lona no chão, fazendo um barulho que ressoou pelo apartamento silencioso, e então viu Phan.
Nenhum dos dois soube esboçar qualquer reação por dois minutos. Eles ficaram ali, parados. Phan sentia cada parte do seu corpo ordenando que ele atirasse no estranho um livro pesado de capa dura e saísse correndo, aproveitando que ele estivesse desmaiado, e pedisse ajuda na recepção, quem sabe!
Mas o garoto estranho sorriu e, apesar da situação muito preocupante, Phan admitiu para si mesmo que aquele era um dos sorrisos mais bonitos que ele já havia visto na vida.
— Isso é algum tipo de brincadeira de Goof? Você é só um normal, como ele te conseguiu? Usou algum feitiço? Achei que fosse um blefe aquilo de surpresa, sabe como é… ele adora mentir para mim. — O estranho deu passos lentos em sua direção. — Goof sabe que odeio quando ele faz isso, não que você não seja bonito, mas é um normal, entende? Não quero… — O garoto parou diante dele e pegou o livro que Phan segurava. — Que droga de livro é este? Aliás, quem é você?
— Saia daqui… Por favor, saia daqui! — Foi o que Phan conseguiu dizer, com grande esforço. — Eu não estou com dinheiro em casa, acabei de me mudar, pegue o que quiser e saia daqui.
— Sair? Por que eu sairia se acabei de chegar? Aliás, nenhum normal manda em mim.
— Você é louco? Como conseguiu passar pelos seguranças? Como tem a chave do meu apartamento?
O garoto, Phan percebeu, parecia verdadeiramente espantado com a situação e deu alguns passos para trás, como se tivesse sido empurrado.
— Seu apartamento? Acho que não, normal. Este apartamento é meu.
— Desculpe, mas você deve ter confundido, este apartamento é meu, foi meu pai que me deu. Você deve ter errado o número ou andar, talvez?
O garoto assentiu lentamente e abriu a porta. Quando voltou, estava sério.
— Não me enganei, não. Apartamento vinte e dois. Este é o meu apartamento, normal. Se eu fosse você, sairia daqui.
Phan largou seu livro e balançou a cabeça.
— Não vou sair! Este apartamento é meu, essas coisas são minhas. — O estranho olhou em volta e Phan percebeu um tremor passar pelo corpo dele, como se ele estivesse sentindo repulsa de algo, apesar de tudo estar bem limpo. — Você com certeza se enganou. Sugiro que fale com alguém da recepção. Eles podem te ajudar a encontrar seu apartamento, tudo bem? Agora, por favor, saia.
O garoto balançou a cabeça e ergueu o queixo.
— Não vou sair até você me provar que é dono do apartamento, normal. Vamos, cadê a prova de que você não invadiu o imóvel?
Phan estava com muito medo, mas queria que aquele estranho saísse logo de seu apartamento, então correu até o quarto e pegou o contrato em sua mochila.
— Veja com seus próprios olhos.
O estranho arrancou o contrato de suas mãos e o analisou. Cada vez que virava uma página, sua testa ficava mais franzida. Phan achava que o estranho teria um ataque cardíaco a qualquer momento.
— Isso deve ser algum tipo de brincadeira do Goof. — O garoto ainda não estava acreditando em Phan! — Talvez você nem seja um normal.
— Desculpe, mas eu realmente não sei do que você está falando, e eu peço, novamente, que você se retire do meu apartamento. Não quero ter que chamar a polícia.
— Acha que não sou capaz de lidar com a polícia, normal?
— Por que você está me chamando de normal? Você não é normal também? — Agindo daquela forma, Phan até achava que o garoto estranho não fosse nada normal, mas essa palavra parecia algo ofensivo para ele, que olhou para Phan como se tivesse sido insultado.
— Jamais me compare a um normal, seu idiota! — Ele jogou o contrato no sofá. — Isso deve ser algum engano. — O garoto foi até sua bolsa, tirou um outro contrato de lá e jogou-o para Phan. — Este é o meu contrato.
Phan pegou o contrato de páginas roxas com letras douradas. Ele nunca tinha visto um contrato como aquele, mas havia um carimbo provando sua veracidade, apesar de ele não reconhecer aquela imobiliária.
— Seu nome é Tay King? — O garoto assentiu e alguns fios de cabelo caíram sobre seus olhos. — Isso deve ser algum tipo de brincadeira sem graça, de fato.
— Você conhece o Goof? — Phan balançou a cabeça negativamente. — Então me explique, como existem dois contratos para um mesmo imóvel?
— Eu juro que não sei. Vou ligar para meu pai, ele é o dono do lugar, ele vai saber o que dizer.
Tay assentiu e se jogou no sofá. Phan pensou em reclamar, mas recuou diante do olhar ameaçador do outro. Ele escorou-se no balcão da cozinha e ligou para o pai. Precisava ter um pouco de privacidade e fugir do olhar assassino de Tay.
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