Já ia fazer uma semana que vinha tendo sonhos ruins constantes, não importava se fosse somente um cochilo, o sonho que virou pesadelo estaria lá esperando por ele. Sempre acontecia no mesmo lugar; uma floresta muito clara, com árvores brancas e copas douradas, que às vezes soltavam brilhos avermelhados, e então Abraxas, o jovem que pediu ajuda a Phan para atravessar a luz densa no corredor de árvores aparecia, com seus olhos pretos e cabelos dourados, um sorriso amigável, mas Phan podia sentir o perigo exalando dele.
O pesadelo de fato começava quando Phan via as pessoas que amava mortas diante dele; os pais caídos com os peitos ensanguentados e fitas vermelhas nos olhos, as irmãs quase se tornando esqueletos cinzentos, ajoelhadas e com as mãos unidas, a mesma fita vermelha as prendendo na posição, Cassandra mordendo Mew até os dois morrerem, e as cabeças dos amigos de Tay, e então o próprio Tay, deitado com as pernas unidas e os braços abertos com uma enorme asa de penas pretas se estendendo por suas costas, sempre havia um grande rasgo no meio do seu peito, por onde uma intensa luz branca vazava.
Phan sempre tentava gritar ou correr até eles, mas não conseguia se mover e nem falar, então tudo ficava vermelho e depois preto e ele acordava.
O menino deu um suspiro de cansaço e olhou para o gramado da faculdade. Havia alguns alunos aproveitando o tempo livre, sentados em bancos de madeira ou deitados debaixo das sombras das árvores. Phan só queria encontrar um lugar para dormir e que não tivesse pesadelos.
O sinal para o fim da aula ressoou por todos os lados e ele juntou seus materiais lentamente, pois mesmo que tivesse apressado para sair dali, não tinha muita força. Ele esperou a multidão sair e então seguiu logo atrás, mantendo uma distância segura para não esbarrar em ninguém e cair. Ele desceu os degraus de cimento para o térreo e encontrou Mew sentado em um banco, com um grande mural acima com fotos de antigos reitores.
O menino analisou Phan atentamente e balançou a cabeça negativamente, como se estivesse reprovando algo.
— Você está péssimo, não tem dormido, certo? — Phan não respondeu, se limitou apenas a segui-lo para o dia irritantemente claro. — Phan, você precisa contar ao Tay sobre os pesadelos, vai acabar tendo um colapso se permanecer assim.
Phan havia contado à Mew sobre seus pesadelos e como não conseguia dormir mais de duas horas por noite, porém Phan estava começando a se arrepender disso, pois o amigo não parava de mandá-lo contar tudo a Tay, acreditando que talvez isso tivesse a ver com a exposição a magia das sombras no hospital abandonado. Mas Phan não sentia mais nenhum resquício de magia dentro de si.
— Eu vou ficar bem, e Tay já tem muita coisa na cabeça. — Phan explicou enquanto caminhavam pelo caminho de pedras quadradas, a sombra do prédio, em direção a biblioteca. — Se ele souber disso, só ficará mais preocupado.
— Ele está caidinho por você. — Mew deu um sorriso conspiratório —, não sei como não consegue ver isso.
Phan apenas balançou a cabeça negativamente, ele não acreditava que Tay pudesse gostar dele, uma vez que ele era um normal, mesmo que o arcaniano tivesse parado de fazer piadinhas ácidas contra Phan, Tay ainda deixava escapar alguns comentários sobre os outros normais. Phan acreditava que aquilo era apenas amizade, nada mais, mesmo que ele não tivesse um histórico muito longo de amigos.
Eles subiram os degraus de pedras da biblioteca, o prédio se agigantando diante deles com painéis de vidro, refletindo o gramado.
— Até mesmo o Blay disse que nunca havia visto o Tay tão controlado e feliz perto de um normal. — Mew insistiu enquanto passavam pelas portas giratórias e entravam no saguão frio, havia alunos indo e vindo de todos os lados, alguns sentados em poltronas de couro preto, outros reunidos em grupinhos animados em torno dos elevadores. Phan e Mew pararam a uma curta distância de um grupo. — Você precisa entender que…
— Não preciso entender nada, Mew, ele não gosta de mim. Tay odeia normais, e só porque ele me trata bem agora não muda o fato de que ele jamais se relacionaria com um. Tay é filho de pais famosos no mundo dele, e ele gosta da ideia de ser um serfeiro. Não acho que seja vantajoso para ele se relacionar comigo, um mero normal.
— Relacionamentos não são baseados nisso. — Mew soltou antes de se espremerem com um grupinho dentro de um elevador.
— Fugiu? Como assim Stephan fugiu? Como o deixaram fugir? — A voz de Tay ressoou pelo escritório da reitora. Os margals sentados na sua frente pareciam desconcertados. Tay olhou para os pais sentados em cada lado dele no sofá. — Como ele conseguiu fugir de Screamort?
— Ele teve ajuda, os margals que participaram da transferência dele só se lembram de ver uma luz e nada mais, aparentemente foram enfeitiçados — respondeu o margal alto e moreno de olhos vermelhos que se apresentou como Arnuch Charlbon.
— Curandeiros estão trabalhando nas mentes deles para descobrir algo que possa nos ajudar, mas aparentemente o feitiço foi muito forte — respondeu o outro, um bruxo de olhos fundos e alaranjados que se apresentou como Charles Burnin. — Porém já montamos uma equipe de busca, e podemos garantir que em breve ele será encontrado.
— Para isso precisamos de informações — completou o outro — se você puder nos falar tudo o que sabe sobre o vampiro, ou se algo de estranho aconteceu recentemente.
— Além do ataque de Cassandra, claro — William destacou para o filho.
— Stephan atacou Cassandra? — Tay indagou perplexo.
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