Saio do banheiro e encontro o Scythupid prontamente parado lá, com a sua camiseta branca, jeans descolorido que parece quase branco (neste momento, não espero ver nenhuma outra cor nele, de qualquer maneira) e tênis Adidas Stan Smith. Uau, esse Scythupid tem bom gosto, esses sapatos parecem exatamente com os meus.
— Vai comigo também, hein? — Eu pergunto enquanto abro o meu guarda-roupa, deslizando a minha mão ao longo da fileira de camisetas penduradas. Qual eu devo usar hoje?
— Bem, não tenho mais nada para fazer. Deixe-me ir junto, parece divertido. Também quero ver como será agora, depois de apagar esse cara.
Eu ri. — Como vai ser? Será ele e eu ainda namorando. A separação nunca aconteceu. — Por fim, decidi escolher uma camiseta vermelha com capuz e combiná-la com o meu jeans descolorido. Ele costumava dizer que essa camiseta era “fofa”.
Certo, eu quero que ele me veja como fofo.
Para a minha surpresa, o Scythupid ri mais alto do que eu e comenta — Você é muito ingênuo. Tem certeza de que sempre funcionará desse jeito?
Termino de me vestir e arrumo a posição do capuz enquanto faço uma cara para ele. — O que você quis dizer com isso?
Ele encolhe os ombros e para de rir, mas mantém o sorriso estranho no rosto. Que sorriso estranho, mas parece familiar, como se eu já o tivesse visto em algum lugar antes. — Vamos verificar primeiro.
Essa é a sua única resposta.
— Olá, Wat!
Eu o cumprimento ao entrar na sua cafeteria. Sei que o meu tom é um pouco feliz demais, mas não posso evitar. Estou feliz. Estou muito feliz porque agora voltamos a ser namorados como antes.
Há um flash de espanto no seu rosto antes dele sorrir de volta. — Ei, que surpresa! Por que você está visitando a minha cafeteria hoje?
Ele pergunta enquanto eu olho ao redor da loja, notando que está bem vazia hoje, apesar de ser meio-dia.
— Humm. Eu quis. Por que eu não o visitaria?
Devo admitir que raramente visitei a sua cafeteria no passado. E não é porque eu não bebo café. Eu só não gosto dos grãos que eles usam. É um pouco amargo, e ele disse que é o sabor que ele gosta. Infelizmente, eu não. Então, quase não o visitei no trabalho para tomar um café.
Pensando bem… eu não era um namorado muito bom. Deveria ter dado mais apoio. Mas… está tudo bem. Tenho a chance agora. Vou mudar para melhor e apoiá-lo mais.
— Vou querer um Americano quente. — Eu peço o preto.
Isso o faz franzir ainda mais as sobrancelhas. — Eu pensei que você tivesse falado que não gostava do nosso café preto. Que é amargo.
Eu ri. — Eu mudei de ideia e quero adquirir o gosto.
Ainda parecendo confuso, ele balança a cabeça e caminha até a máquina de café enquanto gesticula com a mesma para a pessoa atrás de mim. — E quem é esse?
Oh, merda, eu esqueci que não vim aqui sozinho, o maldito Scythupid está junto.
— Bem, esse… é o meu primo. Ele não é da cidade e está me visitando. — Esse é o único perfil que consegui criar no momento. Acho que uma resposta neutra deve ser a carta mais segura para se jogar.
— Oi, bom conhecê-lo. O meu nome é Cue.
O Scythupid se apresenta ao meu namorado.
— Ah… entendi. — Ele acena com a cabeça enquanto moía, enchia e, em seguida, prensava os grãos de café no porta-filtro. Ele então trava a alça da máquina e liga o interruptor para iniciar a prensagem a vapor. Observo as gotas de café expresso caindo no copo abaixo. O delicioso aroma de café enche o ar e as minhas narinas.
— Eu pensei que ele era o seu novo namorado. — Ele diz enquanto se vira para me dar um sorriso sutil e enche um copo vazio com gelo.
A sua observação me faz parar… — Hã? Quê? Novo namorado?
Ele acena: — Sim, eu pensei que você tivesse trazido o seu novo namorado.
— Espere, o quê? Como posso ter um novo namorado? Você e eu somos…
Não entendo. Como posso ter um novo namorado quando ele e eu ainda estamos juntos? Bem, deveríamos estar. Deveria ser assim, porque eu já apaguei aquele babaca do mundo.
O sorriso gradualmente desaparece do seu rosto. Uma sugestão de tensão ao redor dos cantos dos seus lábios retorna. É a expressão facial que ele costuma fazer quando se sente estressado ou pressionado.
— Você ainda não consegue superar, não é? … Eu pensei que você estava bem com isso agora e por isso me visitou aqui. Achei que tinha começado a me aceitar como amigo novamente.
Eu ignoro o que ele está dizendo e pego o meu celular para verificar a rede social daquele idiota novamente. Ainda não existe, mas quando olho a do Wat, percebo que ele acabou de postar uma nova foto, apenas alguns minutos antes da minha chegada ao café. É uma foto dele e de outra pessoa junta, com uma legenda doce e amorosa.
“Foto de ontem à noite, mas acabei de carregá-la esta manhã. Ah! Não estarei mais sozinho neste próximo Dia dos Namorados.”
— Wat… quem é esse? — Eu pergunto, e ele retorna um olhar confuso.
— Hã…? O meu novo namorado. O que eu te disse o outro d…
Com isso, atravesso a porta da cafeteria antes mesmo que ele termine a sua resposta, puxando o Scythupid. Eu só paro de correr quando chegamos a um ponto de ônibus próximo a uma estação BTS Skytrain. Não porque queira esperar por um ônibus, veja bem, eu simplesmente estou sem fôlego para continuar correndo.
— Seu otário! Você me enganou! — Grito com o Scythupid.
— Não, eu não. Não enganei… você… de jeito nenhum. — Ele responde, bufando. Isso me faz pensar como e por que um Scythupid pode ficar sem fôlego. Ele tem um poder mágico tão potente, o suficiente para apagar as pessoas, por que não o usa para se tornar fisicamente forte para poder correr melhor?
Balanço a minha cabeça. — Não, está mentindo. Você me enganou. Eu te disse para apagar o novo namorado dele. Por que ficou assim?
Acontece que Wat e eu ainda estamos separados como antes. Ele não voltou para mim.
— Deixe-me… recuperar o fôlego… primeiro. — Ele ainda está ofegante por causa do esforço, então o deixo em paz. Além disso, ainda estou tentando recuperar o meu fôlego também.
— Tudo bem. Agora escute. — Ele respira profundamente. — Você me disse para apagar uma pessoa, com base no motivo de que o cara era o novo namorado do seu namorado. Do Wat.
Eu aceno em afirmação. — Sim, e você disse que o apagou para mim.
Ele dá de ombros. — Certo, eu o apaguei. Você viu com os seus próprios olhos. A pessoa não existe mais. A sua rede social desapareceu. Todos os vestígios da sua existência foram apagados do mundo inteiro, de tudo. Realizei o seu pedido.
— Mas por que Wat não voltou para mim? Por que ainda estamos separados? — Embora eu tente ao máximo controlar o meu tom de voz, a raiva avassaladora borbulhando de dentro ainda vaza para ele.
— Ele escolheu uma das suas outras opções. — O Scythupid me dá uma resposta inexpressiva. — Ouça, a verdade é que aquele cara não o roubou de você. O coração de Wat se afastou de você há muito tempo, desde antes mesmo daquele cara entrar em cena. Ele era a pessoa certa que apareceu na hora certa. Coitado.
O final da sua explicação parece conter uma sutil sugestão de riso. — O pobre rapaz foi apagado por nada quando não fez nada de errado. E você ainda não ganhou Wat de volta. Você apagou aquele moço, mas Wat ainda pode conhecer outra pessoa, porque o coração dele não estava com você, para começar.
Não tenho certeza se é de exaustão física ou a verdade arrasadora, mas as minhas pernas de repente cedem. Felizmente, há um banco no ponto de ônibus bem ali, então cambaleio em direção a ele e me sento para respirar.
O Scythupid segue e se senta ao meu lado. — Eu te disse, pense bem e escolha sabiamente. Você teve sete noites. — Ele dá de ombros antes de continuar: — Agora você tem seis noites restantes e seis pessoas.
Olho para ele de lado. — Puta merda! Você trapaceou!
Com isso, ele explode em risada. — Hahaha! Está brincando com a Morte, o que você esperava? Contudo, deixe-me te dizer uma coisa, eu não trapaceei. É você. Você que não pensou nisso direito. Pare de me culpar. Vamos lá, já pensou que talvez você estivesse errado?
Permiti minha raiva me deixar cego e surdo para a sua pergunta. — Muito bem, se é assim que você quer jogar. Hoje à noite vou pedir para apagar esse outro namorado novo novamente, e vamos ver amanhã o que acon…
Antes que eu possa terminar a minha frase, Scythupid me interrompe: — Amanhã, Wat ainda terá outro novo namorado. Eu te disse, o coração dele já estava se afastando de você antes que qualquer outra pessoa entrasse. Você não teve o seu namorado roubado. O seu namorado já não te amava tanto, antes mesmo de encontrar um novo amor.
Droga, sim… Isso mesmo. O seu amor por mim já tinha diminuído. Isso quer dizer que devo ter como alvo alguém que o fez me amar menos…
Quem diabos é essa pessoa, então?
— Tudo bem, vou desfrutar um pouco de uma caminhada por aqui. O Scythupid se levanta do seu assento ao meu lado. — É uma chance rara de visitar esta era do mundo.
Ele continua enquanto me dá dois tapinhas no ombro: — Considere isso com cuidado. Hoje à noite vou te ver e atender o segundo pedido. Mas agora vou me divertir.
Ele desaparece outra vez antes que eu possa terminar de piscar.
Sou deixado no banco de um ponto de ônibus, deserto e extremamente ensolarado, fora de mim com os pensamentos e perguntas que permanecem na minha cabeça sobre quem é essa pessoa. Quem foi a razão pela qual ele e eu nos afastamos?
Capítulo 02 da Degustação – 7 Dias Para o Dia dos Namorados, livro do autor tailandês Patrick Rangsimant. Traduzido e publicado no Brasil pela editora blb.
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